Como o setor se prepara para ampliar a produção mesmo com área menor de cana
Por Delcy Mac Cruz
Novas variedades e semente sintética entram em cena em favor da maior oferta de etanol e de açúcar
Crédito de imagem: CTC
O setor sucroenergético tem os próximos 15 anos para ampliar a produção de etanol com estratégias produtivas.
É que até o fim da década de 2030 o mundo deverá crescer 1 bilhão de habitantes, chegando a 10,3 bilhões.
“Temos pela frente um mercado global bastante promissor, seja em alimentos [o que inclui o açúcar], como em combustíveis”, disse ao Energia Que Fala Com Você Luiz Roberto Pogetti, presidente do Conselho da Copersucar e presidente de Honra da Fenasucro & Agrocana 2022.
“Hoje somos competitivos, mas para abraçar esse mercado teremos de ser cada vez mais competitivos, porque as outras tecnologias [como os motores elétricos] irão evoluir rapidamente”, destaca (leia aqui a entrevista).
Sim, o Brasil tem experiência de sobra em produção de açúcar, etanol e bioeletricidade.
No entanto, a oferta de cana-de-açúcar, principal matéria-prima, não tem crescido e a qualidade depende muito das condições climáticas.
Prova disso é que a atual safra ocupa 8,1 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O montante é 2,5% inferior ao do ciclo anterior.
A moagem da cana também está menor. Até 1º de setembro, as usinas da região Centro-Sul, responsável por 90% da produção brasileira, processaram 6,1% menos cana ante a safra anterior, relata a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).
Para ajudar, a qualidade da matéria-prima, mensurada em kg de ATR por tonelada de cana-de-açúcar processada, retraiu 1,65% no acumulado da safra na comparação com o ciclo anterior.
Com menos matéria-prima, a produção segue restritiva. A Conab estima que em termos nacionais 277,1 milhões de toneladas de cana sejam destinadas para fazer açúcar, queda de 6,4% sobre a safra passada.
No caso da cana para fazer etanol, piora: a empresa pública projeta destinação de 283 milhões de toneladas, volume 13% menor que o do ciclo anterior.
Produtividade com tecnologia
Mas há remédio contra tanta projeção negativa. Como prevê o presidente do Conselho da Copersucar, o setor sucroenergético tem prazo de 15 anos.
Neste meio tempo, será preciso colocar em prática estratégias que permitam ampliar a oferta com produtividade exemplar, já que a área ocupada por canaviais tende a cair ainda mais - seja pela concorrência com outras culturas, seja pelos crescentes custos de tratos.
A boa notícia: a produção da cana no Brasil pode dobrar até 2030 apenas com ganhos de produtividade a serem obtidos com tecnologias desenvolvidas pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), destacou durante evento em fevereiro deste ano João Teixeira, CEO da Copersucar.
Mas como fazer isso?
“Com a adoção de novas variedades e da semente como forma de plantio”, afirmou.
Semente?
Sim, o projeto de sementes sintéticas de cana, considerado um dos mais promissores para alavancar a produtividade, “está dominado e o desafio de desenvolver a cápsula que vai proteger a planta está pronto”, disse o CEO da Copersucar no evento de fevereiro.
É preciso destacar que o mercado possui fabricantes de sementes artificiais de cana e entre eles está a canadense New Energy Farms (NEF), responsável pela tecnologia CEEDS, já patenteada em vários países e, que, segundo a empresa, traz, como benefícios, maior vigor, reprodução acelerada e redução no peso e volume de plantio, o que resulta em um plantio mais rápido e eficiente.
O sistema CEEDS sucede a tecnologia Emerald da Syngenta (leia aqui) e deverá apresentar uma pegada ambiental muito menor que sistemas de plantio convencionais, além de melhorar a saúde do solo.
Ganhos e benefícios
No entanto, no caso da semente do CTC um passo significativo será registrado em 2023, quando entra em prática o primeiro projeto-piloto de plantio.
Listamos a seguir informações relacionadas à semente, também a partir de conteúdo de Fernando Lopes no jornal Valor Econômico:
Redução de custos: o plantio com sementes permite que o canavial seja totalmente replantado a cada safra. Hoje, a dinâmica é manter o canavial para novos cortes, com perda de produtividade de 20% por ano. O processo via sementes muda isso, com diminuição de custos.
Benefícios de até R$ 17 mil: é quanto a inovação, baseada na produção de material vegetal em biofábrica, será capaz de gerar (em valores atuais da primeira quinzena de setembro) por hectare de cana.
Motivos dos benefícios: melhorias de sanidade e qualidade, eliminação de viveiros, adequação de manejo, aceleração varietal e eficiência na semeadura.
Mais: as pesquisas de laboratório e de campo mostram que as sementes sintéticas, de cerca de 10 centímetros, são capazes de reduzir em cerca de 2% as falhas nos canaviais, ao mesmo tempo em que proporcionam ganhos de 7% em sanidade, pela menor incidência de pragas e doenças - ou seja, a produtividade pode ser 9% maior que no sistema tradicional. Só isso já corresponde a um ganho de R$ 7 mil por hectare.
Menos área: como o produtor não precisará reservar parte de sua área (15% em média) para os viveiros de mudas, a produção será maior, com ganhos de mais R$ 3 mil por hectare.
Outras vantagens econômicas: benefícios logísticos derivados da eliminação do transporte das mudas e da maior facilidade de planejamento das safras.
Novas variedades: a vantagem das sementes será cada vez mais evidente com o acelerado ritmo de criação de novas variedades de alta produtividade e resistentes a pragas e doenças, a partir de transgenia ou edição genômica.
Menos emissões
A nova revolução canavieira que sai do CTC atesta os investimentos feitos pelo e para o setor sucroenergético brasileiro e global.
Tem mais: produzir com menor consumo de combustível fóssil em tratores e máquinas agrícolas, como previsto pelas sementes, fará o setor reduzir ainda mais as emissões de carbono. Diminuição esta que o etanol já promove e faz o Brasil ser destaque mundial em práticas de descarbonização.