Por que o Brasil tem bons projetos de hidrogênio renovável, mas a maioria enfrenta barreiras

Por que o Brasil tem bons projetos de hidrogênio renovável, mas a maioria enfrenta barreiras

Entre as exceções está o H2V de etanol, com planta em implantação no campus da USP em São Paulo

O Brasil possui uma série de projetos de hidrogênio verde, todos em linha com a transição energética até porque são  redutores das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) e, em alguns casos, têm pegada negativa de emissões. 

Entre esses projetos está o que emprega o etanol como matéria-prima para gerar hidrogênio renovável que será usado como combustível de veículos. 

Fruto de parceria entre Fapesp e Shell, o projeto, que utilizará etanol de segunda geração da Raízen, já tem a primeira planta de conversão em fase de implantação no campus da USP em São Paulo (leia mais a respeito aqui). 

No caso desse empreendimento, ele abastecerá ônibus que irão circular pela universidade e receberão o hidrogênio convertido de etanol em postos localizados dentro do campus.

 

Aí vem a questão: nem toda tecnologia de hidrogênio verde tem a logística estratégica do feito a partir do etanol.  

 

Como assim? 

É que, ao contrário de estações localizadas, que geram o hidrogênio renovável - também chamado H2V - a partir do emprego de etanol, tecnologias que empregam outras fontes limpas, como a solar, precisam de energia elétrica em sua produção. 

Ocorre que muitos dos projetos de H2V estão em regiões sem estrutura de transmissão que transportam eletricidade até eles.

 

O que falta para resolver essa barreira?

Em resumo, o que faltam são linhas de transmissão de energia para que cheguem aos projetos de H2V. 

Na verdade, o cronograma de expansão dessa estrutura está previsto no Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixo Carbono (PHBC)

Esse Programa prevê subsídios entre 2028 e 2032, mas o cronograma atual para expandir as redes de transmissão colocaria os primeiros leilões para 2026 e as obras somente a partir de 2032. 

 

É aí que está o problema: com obras a partir de 2032 sem data para entrega gera desalinhamento tanto no PHBC quanto nas metas do Ministério de Minas e Energia (MME) no Plano Nacional de Hidrogênio (PNH2), que espera ter projetos estruturantes até 2030 e hubs de hidrogênio consolidados até 2035.

 

Pautas para 2025

Esse descasamento entre o cronograma de expansão e adequação das linhas de transmissão de energia e os subsídios previstos pelo PHBC se tornou uma das principais pautas da Associação Brasileira do Hidrogênio Verde (ABIHV) para 2025. 

“O acesso à rede é essencial para viabilizar os projetos do setor e evitar gargalos que possam comprometer a transição energética do Brasil”, destaca Fernanda Delgado, presidente da entidade, em entrevista à agência eixos

“Sem conexão não há transição e hidrogênio verde”, atesta ela. 

A questão dos estudos

Outra questão - ou barreira - nessa história é a entrega de estudos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia, responsável por relacionar os próximos empreendimentos de transmissão a serem outorgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

As indicações apontam que a conclusão desse estudo está prevista para dezembro próximo, prazo que “estaria desalinhado com os cronogramas de decisão de investimento de importantes projetos em andamento de hidrogênio a partir de eletrólise [que usam energia elétrica no processo].”